domingo, 5 de outubro de 2014

Um gole de amargura

Depois de um tempo, você aprende que ninguém te ensina a viver. Ninguém te ensina como você deve se comportar durante a madrugada ou se você deve reagir quando levar uma surra, seja da vida ou de uma pessoa. Você começa a ficar mais amargo por dentro e flexível por fora, trilhando seus caminhos e superando suas derrotas. Você vem para essa rua deserta sem saber que quanto mais você diz pra si mesmo que não consegue seguir adiante, mais você tem que achar forças dentro de si para levantar e estar pronto pra ficar de pé da próxima vez que cair. É, meu querido, a sua escola não vai te dar um emprego só por causa das suas notas boas e não vai te ensinar a ter caráter e ser uma pessoa que valha a pena ter a companhia. o mundo, meu bem, vai perder as cores, as comidas vão perder os sabores, suas manias vão aumentar, seu jeito de viver vai relutar e se você não for um desses obcecado por atenção, vai ficar um pouco só. Na vida, aprende-se que deve se renascer da agonia, daquelas lágrimas que você chorou há quatro anos atrás que ainda deixam ensinamentos que ninguém te preparou para receber. Suas cicatrizes não são marcas de vitórias ou de derrotas, são apenas marcas que você não vai falar muito sobre. O leito pode estar manso, calmo e sereno, mas, por dentro, a vibração vai te consumir até que seus poderes de observação se tornem magníficos. Tudo vai ficar preto e branco e tudo que te divertir verdadeiramente, vão falar que é muito errado e que você é manipuladora e traiçoeira. Seu contra argumento vai ser o silêncio, pois não vai querer gastar palavras com mais um que te chame daquilo. Não vai gastar palavras com pessoas que apenas escolheram sair de tua vida. E... A música boa, uma bebida saborosa, um bom livro de poesia e um vício vão ser seus maiores companheiros... Porque, afinal, todos se vão como fumaças de um cigarro ruim ao vento.
Tudo o que você vai ter para querer contar, meu bem, vai ser um belo sorriso que talvez uma criança roube de você e o vazio terá te consumido tanto que não adianta nem esperar por aquele que vá colorir teu mundo e salvar você de pular do precipício... 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Soneto de Aniversário



Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.
(Rio, 1942)
Vinícius de Moraes 

domingo, 21 de setembro de 2014

Nobody Home


O tempo - parte IV


-O que procura?
-Mãe!? - disse a garota sorrindo e deixando uma lágrima cair de seus olhos.
-Perdão? - talvez a menina fosse apenas mais uma fugitiva do hospício que tinha ali perto. Abaixei a arma e ela limpou as lágrimas. - Qual é seu nome?
Ela sorriu disfarçadamente enquanto ainda limpava suas lágrimas, jogou o cabelo todo para um lado só e disse:
-Você ainda não sabe, né... Sou Sophie... Uma pessoa que te conhecerá muito bem.
- Sou Leona, Sophie. Queria saber se você tem alguma ligação com o homem que vivia aqui.
- Vivia? O que aconteceu com ele? Digo, acabei de chegar de viagem. - tornou a chorar novamente.
- Você tinha alguma relação com ele, Sophie? - enquanto eu falava com ela, adorava pronunciar seu nome mentalmente, sempre tive ma atração pelo nome "Sophie" e sempre falei que este seria o nome de minha filha.
- Ele é meu pai. - estava com uma mochila e a colocou nas costas de novo. Se ajeitou e me empurrou sutilmente para lado, subiu as escadas sem dizer uma palavras e eu por intuito, a segui. Ela parecia bem astuta e decidida.
Parou em frente a mesa de Thomas e abriu uma gaveta, deixou a mochila no canto da sala e colocou seu dedo em um detector digital dentro da gaveta, acho que era o que Mendez havia mencionado. A estante logo colocou-se para frente e uma porta se abriu.
-Sophie, o que significa isso? Se você sabe de algo que ajude na investigação, você tem que me contar.
Ela fechou a gaveta e pareceu me ignorar. Abriu um pouco a cortina do escritório e olhou pela janela, estava assustada. Tornou a andar até a porta recém aberta e eu a puxei pelo braço.
-Trate de me contar o que está acontecendo agora! Seu suposto pai morre e você não esboça nenhum tipo de reação?! Me diz agora o que você é! Você deve ser a pessoa que mencionaram que não tem digitais!
-Leona, preciso que entre na sala comigo. Aquele homem era seu marido, meu pai e eu não fiquei abalada porque não é a primeira vez que o vejo morrer, mas é a primeira em que eu reencontro você! Foi um homem que o matou... Ok? Por favor, entre na sala e eu lhe explico tudo.
Não pensei duas vezes em entrar, estava furiosa e curiosa por causa daquele maldito caso. Entrei, a sala era revestida de algum tipo de metal e havia uma cadeira nela, ligada a uma grande máquina que eu pensei que poderia fazer um barulho de máquina de lavar ou ser algum tipo de arma. Ela fechou a porta e sentou no chão da sala.
-Continue, Sophie.
-Bom, tudo começou quando eu era bem pequena. Eu tinha subido pra tomar um banho logo depois de jantar e vi você e papai conversando algo sério na mesa. - A menina insistia em me chamar de mãe, mas como eu estava sedenta de respostas, não a interrompi - Você estava assustada e papai cauteloso. Foi quando a campainha tocou e os homens importantes chegaram...

Comfortably Numb


Essa menina astuta está tão "tanto faz" que nem a reconheço mais. Sentada, paralisada, olhando para a parede tentando desligar-se de tudo e de todos. Não se importa muito com os que estão aos arredores e para onde vai, aprendeu que a melhor companhia pra si é ela mesma. Tudo que ela precisa é de seu caderno de poemas, um local pra repousar e escutar sua música e seu destruidor vício escondido. 
Os pensamentos não são felizes, dizem que a menina voltou a sua antiga filosofia de que tudo é passageiro, de que ela não gosta do caos na convivência social e que se cansou novamente da estupidez alheia. Os seus poemas retornaram e as suas histórias estão mais inspiradoras que nunca. Mas o que houve àquela menina? Ah, ela apenas não tem mais as distrações que costumou ter por aqueles minutos de anos, seu vazio retornou e não há ninguém que consiga a tirar daquele isolamento. Ela está confortavelmente entorpecida de memórias mortas. Voltou a ser a poeta que experimentou de tudo para escrever sobre e, aliás, ela sempre soube de onde vem sua inspiração. 
Ei, do que ela tem que reclamar? Ela não está triste, só não está feliz. Já teve dias melhores ilusórios, mas não está nos seus piores. Ela definitivamente não está nos seus piores. Ela está com sua cabeça em dia, organizando sua biblioteca de dores e se afastando de todos. O único sorriso que a alegra verdadeiramente é o de seu pequeno companheiro de vida, um dos que não a abandonaram.
Ouvi dizer que essa menina diz que tem muito a aprender... E que adora ensinar aos outros as lições pelo qual passou, do jeito dela.
Espere, não percebe que parece que ela criou seu próprio mundo, ri sozinha de piadas que ela sabe que só ela vai entender e parece conversar consigo. Ela está sendo observada por uma visão mais nova de si, que achava que em nessa fase que ela se encontra, ela estaria bem diferente. A criança achava que era tristonha e desiludida, mas no fundo tinha esperança. Agora, a esperança se foi, porque teve um tempo em que a menina encarou o mundo sozinha e chorava todas as noites por não ter ninguém que a abraçasse e dissesse "vai ficar tudo bem". Mas, agora, ela não chora mais. Ela encara. E foge de dramas. Pessoas trazem dramas demais e balbuciam sobre coisas que não doem tantos aos já feridos.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Esperança

Não resta fagulha alguma
São sombras que carrego em
Meus olhos castanhos
São cegueiras de um passado constante

O que seria este Vinicius dentro de mim?
O que seria...
Corra e se esconda de meu fervor
Que juras amar e odiar

Cercada de asas e com medo de pousar
Vejo a tua pele e tento sentir
Faça-me sorrir...

Espero que não seja apenas
um fio de linha vasto
Mas um eterno farto...

J. Jacques, Rio de Janeiro, 2014

Manhã

Leito sereno e sangrento
Que abalada a grande
ferida obscura da
Alma azeda

Gritai-vos para soltar os fogos
Um meia lua momentâneo e animador
Está exalando a dor
Solte os demônios

O que é isso solto em agosto?
O que é isso em que eu fui posto?
Que isso seja deveras um desejo

No teu ardente beijo
No teu pescoço afiado...
Em nossos corpos costurados

J. JacquesRio de Janeiro, 2014

Girassol de menina

Brilha o resplandecente vazio de luz
Brilha tao forte que teus olhos 
Vos seduz
Faça do teu canto o alvorecer

Tu és o caminho da fagulha de calor
Teus cabelos negros são a essência
De um girassol...
Teu semblante amarelo é o pôr do sol

Contenta teus próximos com tuas
Bochechas coradas de sardas
Seu coração é a pétala que faltava

Não deixe nunca teu coração ser partido
Por esta facada de céu cinza, pois
Tu é a flor de que o mundo precisa

J. JacquesRio de Janeiro, 2014

sábado, 2 de agosto de 2014

Metáfora

Todos os dias, logo de manhã, eu tenho o costume de observar as paisagens que tenho a oportunidade de degustar pela janela do ônibus. Árvores, prédios, ruas floridas e bairros que adoro... Tantas coisas para se aproveitar visualmente que me sinto uma filosofa ocular, reparando nas coisas comuns da vida e tendo um olhar super diferenciado sobre tudo. Enfim, nesta minha viagem diária, eu sempre vejo um cachorro em um certo bairro. Tudo bem, vou me referir a ele como cachorro de certo bairro. Ele sempre está lá, preso por aquelas grades olhando para todos que passam na rua, para todos aqueles projetos de seres humanos e carros apressados... Nenhum sujeito se atreve a olhar para ele, mesmo que ele pule e faça graça, corra de um lado para o outro... Tudo está arrumado no quintal em que ele fica, um pote de ração cheio, casinha bem pintada e três brinquedos jogados ao seu redor e, mesmo assim, ele fica mais tempo admirando a rua. Ele tem tudo ao seu redor e parece tão só, querendo companhia, alguém que o note. você já pensou como deve ser ficar rodando para um lado e para o outro, parando no mesmo lugar e ter que ver a vida passar por entre grades? Ver todos movimentados e vivendo e você ficar parado esperando que alguém pelo menos brinque contigo? Eu reparei naquele cachorro porque ele é minha metáfora da vida personificada. Eu reparei nele porque o entendo. Mas, eu ainda penso nele de um jeito feliz, penso em sua feição ao ver seu dono no final de todos os dias, em sua alegria e animação ao ver sua pessoa e penso que... um dia... eu ficarei animada ao ver a minha, não por entre grades ou através de vidros, mas... perto de minha pele... sorrindo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

SONETO DE AGOSTO


Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estávamos unidos
Nós que andávamos sempre separados.

Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.

Só assim arrancara a linha inútil
Da tua eterna túnica inconsútil...
E para a glória do teu ser mais franco

Quisera que te vissem como eu via
Depois, à luz da lâmpada macia
O púbis negro sobre o corpo branco.

Oxford, 1938

quarta-feira, 9 de julho de 2014

O tempo - parte III

-O jantar estava maravilhoso, amor. - eu tinha comido dois pratos cheios e estava limpando minha boca com o guardanapo. Sophie levantou, colocou seu prato na pia e foi tomar banho. - Tom... - Ele estava demonstrando aflição com a cabeça apoiada em suas mãos e olhando para o nada.
-Oi, amor...
-Você vai me dizer a verdade sobre o homem que ligou antes do jantar? - eu segurei sua mão, independente do que ele estivesse sentido, eu sentiria com ele.
-Lê... É algo do trabalho... Um projeto que deu errado...
-Seu chefe vai te demitir?!
-Digamos que eu mexi com algo superior ao meu chefe... E eles virão nos buscar. - quando ele, falou isso, uma lágrima caiu de seus olhos.
-Tom... O que você fez?
Ele enxugou as lágrimas e esboçou um sorriso meia lua:
-Lê, você lembra exatamente como foi o dia que nos conhecemos? O que você estava sentindo e suas aspirações naquela época?
-Ah, eu me lembro... Eu ia seguir a carreira do papai, queria ser agente de polícia e estava alegre, pois tinha acabado de me formar. A gente estava em uma festa com os calouros da faculdade de física-não-sei-oquê e você era um dos caras que estava apanhando de um valentão da minha escola, embora fosse calouro da faculdade - eu sorri. Pude ver o sorriso em seu rosto também.
-Ótimo, de verdade. Agora vamos lá para cima.
___________

Eu peguei as chaves do meu carro e logo fui para a casa deste maldito Thomas. Eu queria entender, já estava começando a acreditar naquelas ficções científicas loucas sobre coisas bobas. Mas eu tinha que investigar mais.
Andei pra lá e pra cá em sua sala, não teria nada de importante ali, pois ele não ia querer que ninguém achasse. Onde estaria qualquer tipo de vestígio de projeto?
O escritório.
Corri escadas acima e a primeira porta a minha direita era a de seu escritório. Muitas estantes, livros e objetos interessantes que eu teria em minha casa. No fundo, uma escrivaninha que assustava o ambiente por ser uma daquelas de madeira antiga e o visual só piorava com aquela cortina verde musgo. Puxei sua cadeira e me sentei tentando analisar a sala sob sua perspectiva.
Ao olhar para sua gaveta, pude ouvir uma voz que sussurrava meu apelido de colégio "Lê...". Minha pele ficou arrepiada tão rápida quanto o movimento que fiz para abrir a gaveta. Papéis, bilhetes, cartas, apostila de física-não-sei-oquê e um desenho de uma tal de Sophie.
Sophie... O nome que sempre quis para minha filha... Aos poucos, aquele homem passava de pesadelo a sonho nunca realizado.
~~trim trim~~

-Sim?
-Leona, sei que está na casa do seu marido - sorriu, mas eu não achei a menor graça - Enfim, o John disse que encontrou uma passagem atrás da estante do escritório dele- "que clichê", eu pensei - e a entrada é aberta pela escrivaninha, mas só com a digital de alguém de sua família.
-Você diz... Filho, filha ou esposa, né?
-Sim.
-De qualquer forma, Mendez. Obrigado. - desliguei o telefone.

Pude ouvir a porta se abrir lá embaixo e peguei minha arma da cintura. Do segundo andar, pude olhar quem estava na sala de estar. Era uma menina loira, que aparentava ter quinze anos. Era bem discreta e não fazia barulho ao andar. Parecia que ela estava checando alguma coisa em relação ao, seu talvez conhecido, Thomas. Desci e baixei a guarda com a arma. Ainda parada nos degraus da escada, eu disse:
-O que procura?
-Mãe!? - disse a garota sorrindo e deixando uma lágrima cair de seus olhos.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O tempo - parte II



"Amor, hora de levantar e ir buscar Sophie na escola" - disse meu marido.
Eu estava tão confortável naquela situação que nem me perguntei se a casa, se o homem a me gritar ou se a filha que me foi apresentada eram reais.
- Tudo bem, amor. Já estou indo... Me distraí com esse programa de culinária e acabei dormindo. - disse eu esfregando os olhos.
Tom desligou a TV com o controle e me olhou sorrindo, "ainda bem que sou eu que cozinho nessa casa". Eu sorri de volta. O dia na agência de modelo tinha sido cansativo, tive que usar mais de trinta vestidos para fotos e aquelas malditas poses acabavam com a minha coluna. Levantei e coloquei meu casaco, não queria me atrasar para buscar Sophie.
Estava sem trânsito e logo cheguei na escola. Como eu não estranhei aquela menina loira correndo até mim? Como eu aceitei tão facilmente que uma ilusão de memória me chamasse de "mamãe"?
Tudo estava tão gostoso, tão bom de se viver, o carro estava bom de dirigir e eu não poderia ter filha mais bonita. 

______


~~trim trim trim trim~~

Nunca pensei em como o toque do meu telefone fosse irritante para quem está dormindo. Sentei no sofá e remexi a mesa meio tonta por causa do sono, depois de derrubar duas canetas e meu maço de cigarro, consegui pegar o celular.

-Fala, Mendez.
-Leona, foram achadas digitais e pegadas na casa desse tal de Thomas.
-Alguma pista de como ele tem tudo isso sobre mim?
-Leona, as digitais no corpo dele não foram encontradas no banco de dados. É como se um fantasma tivesse matado ele.
-Esse homem está sendo como um fantasma. Mendez, esse caso é meu... Não quero que ele saia do nosso conhecimento apenas por enquanto. Leva o corpo pro necrotério e não chama a equipe de limpeza ainda, eu quero checar as coisas aí.
-Ok.

______


-Cheguei, amor.

-Oi, papai!
Tom limpou as mãos na calça - coisa que eu odiava- e foi nos abraçar. O jantar já estava posto na mesa e Sophie logo se sentou.
O telefone tocou. Tom me olhou meio apreensivo, mas eu estava perto do telefone, então atendi.
-"Já chega, Thomas, eu quero o a droga do projeto e do experimento amanhã na minha mesa! Não posso deixar que você interfira assim!"
- O que? Quem é?!
Tom me olhou como se soubesse quem era, pegou o telefone da minha mão e desligou. "Esse louco tem ligado o dia todo, me disseram que ele tem autismo ou algo assim, não me lembro". Eu sorri fingindo que engoli aquela história e me sentei para jantar.

O tempo - parte I


- Não quero que se lembre de mim como a pessoa que teve que lhe contar sobre a morte dele, mas sim como a pessoa que nunca saiu do seu lado nem em sua morte. 

Eu estava olhando fotos deste estranho que tem me intrigado tanto depois de sua morte, não sabia quem ele era ou que fez, apenas apareceu morto em sua casa e quando fomos investigar, achei fotos minhas em seu álbum de família. Aquele estranho estava me dando nos nervos mesmo morto. Ele morreu assistindo um documentário sobre aquele cadeirante cientista chamado Stephen Hawking. 
- Policial Mendez, por que falou comigo como se a morte deste homem desconhecido afetasse meu emocional?
Ele não entendeu, mas fiquei em silêncio remexendo as fotos mais uma vez porque tudo aquilo era muito chocante. A feição do meu parceiro expressava espanto... O nome do homem era Thomas J. e nada dele era sequer familiar pra mim.
Quando liguei pra perícia, tudo o que pude fazer foi esperar. Fiquei sentada nas escadas do lado de fora de sua casa e Mendez estava ao meu lado, baguncei um pouco meu cabelo tentando aliviar a minha tensão.
"Calma, Leona, é só mais um homem que morreu e a parte estranha é que ele tem fotos suas que você nem se lembra de ter tirado. Só isso" - Não, não era só isso e algo não se encaixava ali. Tudo estava muito estranho. 
- Leona! Achamos um presente pra você! - disse John, meu amigo que trabalhava na perícia. Caminhei até ele e pude ver em suas mãos uma camisola preta com detalhes verdes e em sua outra mão uma caixinha de presente.
- O que é isso? - eu disse limpando o suor de minha testa.
Ele levantou a caixinha e leu " Pensou que eu tinha esquecido do nosso aniversário de casamento, amor? Minha Leona... Te amo. (25/10)".
- Tem certeza que não o conhecia, Leona? 
- Tenho absoluta certeza. John assume com o Mendez daí. Estou cansada e vou resolver outras coisas.
Mentira. Eu só precisava sair daquele local que estava me deixando mais nervosa que nunca. Peguei o carro e dirigi até minha casa. Tentei tirar algumas conclusões.
Eu nunca tivera problemas de amnésia entre outras coisas. E não era possível que eu estivesse com esse homem casada sem ter nenhum registro ou algo assim. Tudo que eu tinha eram aquelas malditas fotos dele. E aquela data de casamento, não sei, aquela data era o dia de amanhã. Eu deveria esperar algum tipo de comemoração? Sei lá, tudo aquilo parecia um sonho louco de uma realidade paralela.
Deitei no sofá e logo adormeci.

____

"Amor, hora de levantar e ir buscar Sophie na escola" - disse, meu marido.


quinta-feira, 3 de julho de 2014

Devaneios

Desdobra-te em tuas
Palavras e línguas
Até o ponto de partida

Sorria com força
Até que a espada o corte,
Que a espada o cegue

Esconda-te de si mesmo
Até que o generoso vento lhe mostre
Lições do tempo
E da chuva do pensamento

Amarra-te aos teus anseios em um véu
E minta sobre teus devaneios...
Como uma criança
Jogada rumo ao léu...

sábado, 28 de junho de 2014

Escrituras de uma Rosa

Sente-se e aproveite até a última gota deste copo amargo de whisky. Escreva quantas poesia você puder vasculhe nas suas memórias lugares lindos para visitar. Sorria ao cair em algum buraco de lembrança, mas acorde para perceber que aquilo é só isso. Tente recordar quantos segredos você guarda debaixo desta pele perfumada de atuação, quantos olhares profundos estão escondidos nessa solidão. Tente perceber o mundo lá fora e descreva de forma mágica tudo que você pode ver, descreva nessas linhas vazias.
Dê mais um gole, agora pense: De quantas pessoas e coisas tu tiveste que se afastar até poder ter esta sensação de paz? Obviamente, você vai responder rapidamente que elas deixaram muito vazio em você. Mas é assim que tem que ser, não percebes? Você tem que estar vazio o suficiente para receber novos amores, novos sorrisos e novas sensações que a vida tem pra te dar. Você tem que deixar esses anjos do seus pesadelos irem embora para que novas auras floresçam em ti.
Seja como você sempre quis ser, sorria de coisinhas bobas e dê sorrisos meia lua daquilo que você espera o dia todo para ver. Aguarde por aquele que faça você querer escrever sobre romances idiotas de novo, iluda-te.  Aguarde por aquele que vai te pegar pelo cabelo e te roubar um beijo, que vai dividir mesas de bar contigo e depois vai recitar poesias de Vinícius no pôr do sol. Aguarde sim por todos teus sonhos e devaneios românticos, mas não te esqueça que você tem que viver tua vida enquanto esperas. Quem você encontrar nessa salinha de espera e com quem fará festas e lágrimas nessa fila, é escolha tua.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Espinhos Secos

Todo dia tu chegas
E bocejas de minha dor
Aquela que um dia
Você tanto adorou...

Todo dia você se mascara
Mata-me com olhares espinhosos
Corrói-me com palavras secas
E esquece gestos educados e carinhosos

Tu não tens motivo
Tu não tens direito
Você rasgou o que eu tinha no peito

Você me constipou de nojo
Por ter se tornado este boçal
Que de certo, você nunca foi...

Can anyone save me from myself?

Sinto-me realmente perturbada, gritando como um bebê abandonado dentro de um saco de lixo. Ultimamente, minha única companhia tem sido uma louca com tendências suicidas. Ela tenta ser um camaleão, é ate engraçado, a cada ano ela troca sua cor esperando que estas almas de estúpidos convívios do passado não a reconheçam. Ela é quieta e desiludida. Já experimentou ser a melhor e depois disso se tornou a pior. Ela está tentando me ensinar a vaporizar em fumaças cinzas meus problemas... Infelizmente, eu tenho afastado todos... Mas ela é uma companhia interessante... Já partiu corações e já teve seu coração partido... Ela sabe que isso tudo lhe deu experiência para a vida e hoje em dia é bem fechada para sentimentos e reservada para assuntos. Ela me disse auê é agonizante ficar com tanta coisa entalada para expressar e o quanto é triste que ninguém entenda ou sequer possa ver. Todos só querem criticá-la e nem forças para chorar ela tem... Ela está sem fôlego para continuar!
Mais uma vez, tudo que ela tinha desabou e uma vez que ela tentou recolher os cacos, se cortou. Ela me indicou filmes que nunca viu para eu ver e músicas melodramáticas para eu escutar...
Achei esta companhia em mim...

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Às vezes no silêncio.

É, eu vejo você. Infelizmente. Vejo você em cada detalhe, vejo você em todos os cantos, vejo você sorrindo e vejo você chorando. Não derrubo lagrimas ou sequer expresso sorrisos, tento a todo momento fixar a ideia de que você não está comigo.
Que presunçosa eu de pensar que uma pessoa tão jovem iria saber o que era amar sem saber sequer, quem é. É doloroso, é um rasgo sentimental, mas que eu não posso deixar me afetar, vou seguir o conselho de Shakespeare e me recompor a partir da dor. Que poético, sem amor é como se a coisa mais divertida fosse um eterno tédio. Tudo é alegria, tudo é drama, até repenso sobre minha fama.
Enfim, voltando ao assunto certo, é difícil aprender a viver sem você por perto. Que louco seria o amante que fala sobre o amor, mas nunca vivenciou seu explendor. Depois restam apenas fantasmas em brechas sombrias do dia a dia, como se sobrasse apenas flashbacks em preto e branco. Tenho certeza de que alguma hora isso vai passar e eu vou parar de "vazar", porém para isso preciso me expressar... Depois de ler todos os textos de amor que li, sei que algum dia, você vai se tornar apenas alguém que conheci.

Travesseiro

Ouvi boatos de que eu não preciso mais levantar. Que eu posso ficar deitada o dia todo sem pensar em nada. E que se eu levantar, logo pra cama preciso voltar. Preciso ficar o dia todo aproveitando minha senescência, vegetando por entre lençóis e amassando meus travesseiros. Gosto de abraçar meus ursinhos ou acordar com os pedidos do meu irmão pra eu levantar da cama. Mas fora isso, nada me tira dela. Estou sem vontade de viver, não sei porquê não sei quem sou, só sei que eu não deveria estar aqui. To cansada desta fase infeliz  que e complicada que é a adolescência. Na verdade, estou cansada de tudo, até de respirar. Todos os dias eu acordo e quero continuar dormindo mentalmente só para não ficar doente. Afinal, que sentido tem a vida? Não somos nada além se resto de poeira espacial, no fundo, ninguém é especial. A vida não tem sentido... O máximo que posso ter por dia, é um sincero sorriso.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Lobo

É impossível descrever em palavras o que sinto exatamente agora, porque simplesmente não sinto nada. Estou no ônibus indo para a escola e sinto como se estivesse vivendo uma metáfora de minha própria vida... Olhando pelo vidro da janelas as coisas passarem, as pessoas vivendo e correndo para seus trabalhos e obrigações. É horrível acordar todo dia com esta sensação, de que todas aquelas ilusões do subconsciente foram apenas um sonho e não passarão disso... Às vezes sinto que meu coração está tão gelado quanto a brisa gelada que congela meu rosto na janela... Essa manhã chuvosa é quase que confortante.
Sinto que estou ficando louca, parece que tudo está desaparecendo... Cada fagulha de detalhe. Sinto falta de sorrir...
Em algum momento eu me vi entre meu orgulho e as promessas e não soube mais o que fazer... E agora aqui estou, encarando as consequências de tudo.
Mas de que adiantar reclamar e se queixar? Sou apenas mais um lobo solitário na neve... Com suas dores e seus perdões vagando e sobrevivendo aos mistérios da escuridão.

sábado, 19 de abril de 2014

Companhia


Tenho me sentido a vontade novamente em meu mundo de sonhos que vive coberto de esperança. Tenho me sentido a vontade de novo no meio dos personagens que escrevi... Fico tão relaxada conversando com estas pessoas fantasiosas e nada perfeitas que criei para preencherem vazios meus que esqueço do tédio que vem me tomado completamente. 
A maioria deles são derivados de experiências minhas, outros são meu alter ego e alguns são apenas sonhos que não se realizaram, mas todos me entendem... 
Procuro companhia no meu próprio vazio, procuro companhia em meus vorazes pensamentos que definham em idéias soltas... As minhas companhias são loucas...
Mas elas estão em todo o lugar... Estão nos ursos que durmo com que trazem tantas lembranças quanto um álbum de fotografia  e estão em sorrisos largados pelo meu dia...

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Ed Sheeran - The A Team

O meu agora


De certo, nunca senti isso. Sempre fui uma pessoa enamorada cheia de colegas e amigas, mas agora tudo o que penso é nesse vazio que toma conta de mim a cada segundo, penso sobre essa dor que toma conta de mim a cada vez que eu respiro. Sufocada por um vórtice de coisas ruins que me puxam de um jeito devastador para o inevitável desastre emocional e psicológico. Tudo o que tenho são memórias guardadas na minha mente como um álbum de fotos sem fim e as únicas alegrias que tenho durante o dia vêm com sorrisos por lembrar do passado.
As minhas noites são eternos vácuos que me tiram o ar, são incômodos que me apertam não deixando adormecer. Sinto-me indiferente e dispensável, mas não quero compartilhar isso com as pessoas e não derrubo lágrimas de pavor ao perceber o quanto minha vida está um caos.
Ninguém entenderia se eu tentasse explicar e não pretendo gastar saliva. Tenho problemas sem fim e, convenhamos que estou sozinha para resolver todos. Não adianta gritar em uma terra de surdos... Tudo o que faço é esperar, ver o tempo passar sem conseguir tocar nele... como se lençóis de ceda passassem pelas minhas mãos de um jeito escorregadio... Tudo o que faço é escutar algumas músicas e derrubar lágrimas ou construir sorrisos ouvindo-as...
Visto a minha máscara de ilusão para não mostrar aos outros coisas que não consigo resolver, limito minhas relações e não conto muito com os outros... Afinal, mesmo com esse pouco tempo de vida, já aprendi que tudo é passageiro.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Bloco de Notas.

Já não era de tanto espanto que um dia aquele devoto encanto fosse terminar. Aquele que um dia deveras cortejei hai de se afastar, levando embora lembranças de ilusórias memórias e deixando-me apenas com o silêncio que um dia jurei amar. Não sussurre juras, não irei escutar, mas admito que gostar de ti como eu gostei, ninguém irá. Mas que seria da paixão se não fosse finita? A chama não arderia assim tão eternamente em um homem tão bonito. Um dia ele vai se esvair... Como um perfume adorado ao  v     e       n       t      o.
Parece que mesmo com um passado tão conturbado por várias lutas para ter uma conquista, toda a união foi em vão, nos tornando irmãos de causa e não amantes sonhadores. Há quem diga que tudo é passageiro, mas eu duvidava... Porém, quando eu estou com raiva de ti, afirmo que foi passageiro contigo. Afirmo e grito, grito muito do alto dos prédios se for preciso.
E hoje com tanto descontentamento no sorriso, nem as lágrimas conseguem aparecer, tornando-me feliz e oca, um ser vivente por fora e pensante por dentro nesta noite de núpcias da filosofia. Que seria eu sem meu porto seguro da escrita, uma de minhas únicas amigas... Que apesar de falha em alguns momentos da madrugada, deixa eu expressar meu verdadeiro eu? Não admito que a culpa não seja minha e que por causa deste coração de gelatina eu tenha ainda este carinho assombroso. Tudo passa na minha cabeça como uma alucinação voraz. Não sei o que quero e onde estou... Mas não é onde devo estar, apenas estou seguindo um caminho trilhado por outros para chegar aonde quero chegar e neste meio rochoso e frio, foi uma benção te encontrar.