sábado, 2 de agosto de 2014

Metáfora

Todos os dias, logo de manhã, eu tenho o costume de observar as paisagens que tenho a oportunidade de degustar pela janela do ônibus. Árvores, prédios, ruas floridas e bairros que adoro... Tantas coisas para se aproveitar visualmente que me sinto uma filosofa ocular, reparando nas coisas comuns da vida e tendo um olhar super diferenciado sobre tudo. Enfim, nesta minha viagem diária, eu sempre vejo um cachorro em um certo bairro. Tudo bem, vou me referir a ele como cachorro de certo bairro. Ele sempre está lá, preso por aquelas grades olhando para todos que passam na rua, para todos aqueles projetos de seres humanos e carros apressados... Nenhum sujeito se atreve a olhar para ele, mesmo que ele pule e faça graça, corra de um lado para o outro... Tudo está arrumado no quintal em que ele fica, um pote de ração cheio, casinha bem pintada e três brinquedos jogados ao seu redor e, mesmo assim, ele fica mais tempo admirando a rua. Ele tem tudo ao seu redor e parece tão só, querendo companhia, alguém que o note. você já pensou como deve ser ficar rodando para um lado e para o outro, parando no mesmo lugar e ter que ver a vida passar por entre grades? Ver todos movimentados e vivendo e você ficar parado esperando que alguém pelo menos brinque contigo? Eu reparei naquele cachorro porque ele é minha metáfora da vida personificada. Eu reparei nele porque o entendo. Mas, eu ainda penso nele de um jeito feliz, penso em sua feição ao ver seu dono no final de todos os dias, em sua alegria e animação ao ver sua pessoa e penso que... um dia... eu ficarei animada ao ver a minha, não por entre grades ou através de vidros, mas... perto de minha pele... sorrindo.