segunda-feira, 7 de julho de 2014

O tempo - parte II



"Amor, hora de levantar e ir buscar Sophie na escola" - disse meu marido.
Eu estava tão confortável naquela situação que nem me perguntei se a casa, se o homem a me gritar ou se a filha que me foi apresentada eram reais.
- Tudo bem, amor. Já estou indo... Me distraí com esse programa de culinária e acabei dormindo. - disse eu esfregando os olhos.
Tom desligou a TV com o controle e me olhou sorrindo, "ainda bem que sou eu que cozinho nessa casa". Eu sorri de volta. O dia na agência de modelo tinha sido cansativo, tive que usar mais de trinta vestidos para fotos e aquelas malditas poses acabavam com a minha coluna. Levantei e coloquei meu casaco, não queria me atrasar para buscar Sophie.
Estava sem trânsito e logo cheguei na escola. Como eu não estranhei aquela menina loira correndo até mim? Como eu aceitei tão facilmente que uma ilusão de memória me chamasse de "mamãe"?
Tudo estava tão gostoso, tão bom de se viver, o carro estava bom de dirigir e eu não poderia ter filha mais bonita. 

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~~trim trim trim trim~~

Nunca pensei em como o toque do meu telefone fosse irritante para quem está dormindo. Sentei no sofá e remexi a mesa meio tonta por causa do sono, depois de derrubar duas canetas e meu maço de cigarro, consegui pegar o celular.

-Fala, Mendez.
-Leona, foram achadas digitais e pegadas na casa desse tal de Thomas.
-Alguma pista de como ele tem tudo isso sobre mim?
-Leona, as digitais no corpo dele não foram encontradas no banco de dados. É como se um fantasma tivesse matado ele.
-Esse homem está sendo como um fantasma. Mendez, esse caso é meu... Não quero que ele saia do nosso conhecimento apenas por enquanto. Leva o corpo pro necrotério e não chama a equipe de limpeza ainda, eu quero checar as coisas aí.
-Ok.

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-Cheguei, amor.

-Oi, papai!
Tom limpou as mãos na calça - coisa que eu odiava- e foi nos abraçar. O jantar já estava posto na mesa e Sophie logo se sentou.
O telefone tocou. Tom me olhou meio apreensivo, mas eu estava perto do telefone, então atendi.
-"Já chega, Thomas, eu quero o a droga do projeto e do experimento amanhã na minha mesa! Não posso deixar que você interfira assim!"
- O que? Quem é?!
Tom me olhou como se soubesse quem era, pegou o telefone da minha mão e desligou. "Esse louco tem ligado o dia todo, me disseram que ele tem autismo ou algo assim, não me lembro". Eu sorri fingindo que engoli aquela história e me sentei para jantar.