Não consigo descrever como me sinto bem sentada no escuro sozinha. O que antes foi motivo de tremenda aflição e medo, hoje em dia é meu maior refúgio porque poucos ousam entrar nesse ambiente sem luz por ser desesperadamente solitário e difícil. É onde me acalmo, seja na raiva tão que mantenho em controle constantemente ou na melancolia que vive em mim. É um caminho sem volta, ser moldado por breu e finalmente se sentir bem ali. É um caminho sem volta enxergar a luz como algo bom demais pra si e querer manter distante.
Eu já tive medo de lugares escuros, dormia com uma luz nos pés da cama. Agora eu sou composta de vício, pensamentos e prosa, com uma pitada de humor sádico. E isso molda minha personagem um tanto bucólica que vive de piadas e bom humor.
Eu acordo com a madrugada, quando todos estão dormindo, me vejo na obrigação de contempla-la em todo seu charme. De ver o amanhecer e esconder com a luz do sol certas verdades. Você vai descobrir que a noite pertence as prostitutas e aos escritores cheio de caos dentro de si. Mas isso é com o tempo.
Eu descobri um conforto nas trevas que me foi imposta tão jovem. E hoje em dia admito que tenho certo apego. Se eu pudesse, só viveria a noite e seu esplendor. As emoções da noite não são impulsivas e efêmeras como as dita num dia ensolarado. A noite brinca contigo pra revelar quem você é de verdade. A escuridão cobra e muitos quebram. Eu sorrio. E nessa brincadeira de me comparar ao Wayne aqui e ali vou vivendo.
Não, não é um texto triste e peço desculpas se lhe passou essa impressão. Eu só me vi muito bem estando só com meu vício observando o fluxo da rua durante a madrugada. Sentada numa rede com as luzes apagadas. Queria compartilhar em prosa o quão acolhedor foi o momento...