quinta-feira, 11 de abril de 2019

Fire

Eu sempre tive medo do fogo. Desde pequena. Demorei muito pra conseguir acender um fogão porque tinha medo de me queimar com o fósforo, pra você ter noção. Não escondo de ninguém que meu elemento, o que rege minha vida, é o ar. A liberdade, a respiração, o vento em meu rosto sempre me trouxeram paz... Mas, embora eu tivesse medo do fogo, sempre cultivei certa admiração por ele, sabe? É impressionante como ele consegue dançar em nuances, em altos e baixos de várias cores... Sem controle algum, apenas abrasamento e chama. Indomável...
Eu o evitei durante a vida... Minhas interações com o fogo resultaram em queimaduras pequenas aqui e ali... E eu prezo muito pelo controle das coisas, caso contrário fico em desespero. Consegui ceder para a água e sua pressão. Consegui ceder um pouco para terra e sua firmeza. Mas o fogo e sua falta de controle... Me geravam medo por mais que eu já fosse uma jovem adulta.
Não faz muito tempo que me disseram para perder o medo deste. De seu calor e de seu completo caos e - não sei se é por causa das experiências que acabei tendo na vida - encontrei nele certo refúgio. Da admiração gerou-se carinho e prazer. Ver a chama arder em minha pele já não era nada a ser temido, não mais. Pude conversar com esse elemento de maneira que o compreendi e percebi muita coisa em comum porque afinal há sinergia entre ar e fogo. Fui consumida num incêndio e me permiti ter intimidade com mais um elemento na vida. Pude ser domada pelo indomável
Sabe, eu perdi o medo que tinha do fogo. Ver a chama, agora que conheço sua história, me traz certo prazer e paz. Poder experimentar um pouco da chama em meu corpo, nas minhas mãos... aceitar sua dinâmica. Graças ao fogo, eu consegui aceitar minhas cicatrizes e queimaduras de maneira melhor, eu consegui conversar com meus demônios escondidos nas chamas azuis do inferno. 
Eu perdi o medo ao me perder na ignificação.