terça-feira, 19 de agosto de 2014

Esperança

Não resta fagulha alguma
São sombras que carrego em
Meus olhos castanhos
São cegueiras de um passado constante

O que seria este Vinicius dentro de mim?
O que seria...
Corra e se esconda de meu fervor
Que juras amar e odiar

Cercada de asas e com medo de pousar
Vejo a tua pele e tento sentir
Faça-me sorrir...

Espero que não seja apenas
um fio de linha vasto
Mas um eterno farto...

J. Jacques, Rio de Janeiro, 2014

Manhã

Leito sereno e sangrento
Que abalada a grande
ferida obscura da
Alma azeda

Gritai-vos para soltar os fogos
Um meia lua momentâneo e animador
Está exalando a dor
Solte os demônios

O que é isso solto em agosto?
O que é isso em que eu fui posto?
Que isso seja deveras um desejo

No teu ardente beijo
No teu pescoço afiado...
Em nossos corpos costurados

J. JacquesRio de Janeiro, 2014

Girassol de menina

Brilha o resplandecente vazio de luz
Brilha tao forte que teus olhos 
Vos seduz
Faça do teu canto o alvorecer

Tu és o caminho da fagulha de calor
Teus cabelos negros são a essência
De um girassol...
Teu semblante amarelo é o pôr do sol

Contenta teus próximos com tuas
Bochechas coradas de sardas
Seu coração é a pétala que faltava

Não deixe nunca teu coração ser partido
Por esta facada de céu cinza, pois
Tu é a flor de que o mundo precisa

J. JacquesRio de Janeiro, 2014

sábado, 2 de agosto de 2014

Metáfora

Todos os dias, logo de manhã, eu tenho o costume de observar as paisagens que tenho a oportunidade de degustar pela janela do ônibus. Árvores, prédios, ruas floridas e bairros que adoro... Tantas coisas para se aproveitar visualmente que me sinto uma filosofa ocular, reparando nas coisas comuns da vida e tendo um olhar super diferenciado sobre tudo. Enfim, nesta minha viagem diária, eu sempre vejo um cachorro em um certo bairro. Tudo bem, vou me referir a ele como cachorro de certo bairro. Ele sempre está lá, preso por aquelas grades olhando para todos que passam na rua, para todos aqueles projetos de seres humanos e carros apressados... Nenhum sujeito se atreve a olhar para ele, mesmo que ele pule e faça graça, corra de um lado para o outro... Tudo está arrumado no quintal em que ele fica, um pote de ração cheio, casinha bem pintada e três brinquedos jogados ao seu redor e, mesmo assim, ele fica mais tempo admirando a rua. Ele tem tudo ao seu redor e parece tão só, querendo companhia, alguém que o note. você já pensou como deve ser ficar rodando para um lado e para o outro, parando no mesmo lugar e ter que ver a vida passar por entre grades? Ver todos movimentados e vivendo e você ficar parado esperando que alguém pelo menos brinque contigo? Eu reparei naquele cachorro porque ele é minha metáfora da vida personificada. Eu reparei nele porque o entendo. Mas, eu ainda penso nele de um jeito feliz, penso em sua feição ao ver seu dono no final de todos os dias, em sua alegria e animação ao ver sua pessoa e penso que... um dia... eu ficarei animada ao ver a minha, não por entre grades ou através de vidros, mas... perto de minha pele... sorrindo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

SONETO DE AGOSTO


Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados
Amamos, vagamente surpreendidos
Pelo ardor com que estávamos unidos
Nós que andávamos sempre separados.

Espantei-me, confesso-te, dos brados
Com que enchi teus patéticos ouvidos
E achei rude o calor dos teus gemidos
Eu que sempre os julgara desolados.

Só assim arrancara a linha inútil
Da tua eterna túnica inconsútil...
E para a glória do teu ser mais franco

Quisera que te vissem como eu via
Depois, à luz da lâmpada macia
O púbis negro sobre o corpo branco.

Oxford, 1938