domingo, 9 de agosto de 2020

mostly regret

Eu sempre fui uma observadora. Nasci como uma. Por mais que eu fosse tachada como um pouco imprevisível por algum tempo na minha vida, acredite, eu não era. Demorou um tempo até que eu aprendesse aonde eu queria chegar com meus atos ou simplesmente vivesse o momento. Por eu ser observadora, grande parte do meu dia era tomado por devaneios de aventuras que nunca vivi, situações que eu poderia criar e pessoas que eu poderia conhecer. Sabe, eu sempre fiquei tentada a conhecer os outros, entender todos e ouso dizer que estudar o outro fazia parte de uma rotina pessoal estranha que eu contemplo até hoje. Mas eu tenho um problema: eu não formei elos. Eu gostava de conhecer, mas não me aproximar tanto para que pessoas me conhecessem bem.
Por eu estar sempre com a sensação de exclusão desde criança (não que as pessoas me excluissem de nenhuma maneira, eu apenas sentia que não pertencia), eu não me apegava. E hoje, o ser que eu sou, fica realmente triste com isso. Quando criança, eu me forcei para longe de amigos que tive durante longos quatro anos porque fiquei com medo de que em algum momento ou de alguma maneira fosse excluída por não ter a mesma classe social que eles. Coisa que nunca aconteceu nesses quatro anos, mas que eu divagava que pudesse acontecer. Eu falei pra mim mesmo "vai embora, some, se quiserem saber de ti eles vão te procurar". Mas não. Ninguém procura quem escolheu ir embora. Eu hoje vejo fotos dessas pessoas que eu conheci muito bem um dia em uma realidade quase que alternativa e me arrependo profundamente de não ter semeado uma amizade duradoura com cada uma delas. Todas cresceram pra se tornar seres sensacionais. 
Não pense que parou ai, isso persistiu no meu comportamento como se fosse um muro que não parava de crescer. Eu afastei todos do meu ginásio, inclusive pessoas que tinham quebrado uma barreira muito difícil minha, pessoas sensacionais que talvez eu nunca seja capaz de conhecer de novo. Decidi me afastar de todos do ensino médio. Eu simplesmente vou embora porque eu tenho a mania de contemplar cenários de fora e não ser parte deles. Isso dói. 
Durante muito tempo eu me senti só. Senti que tudo isso era justificável de alguma maneira. Isso de fato é uma barreira pra minha fobia por vulnerabilidade. Por mais que eu seja amigo de alguém, eu não gosto de expor, de me expor, mas gosto de ajudar e aconselhar. Ainda como observadora. 
O problema de ser observadora e ser eu nesse caso é: eu tenho uma ótima memória. Eu lembro de quase todos os momentos que eu criei com as pessoas no qual eu me afastei, seja por bom ou nenhum motivo. Eu revivo, relembro e me arrependo. Eu sempre achei que não criar elos fosse a resposta pra evitar desapontamentos, mas... Eu estava errada. 
Eu tive ótimas aventuras, momentos sensacionais. Estes que são motivo de eu ter tanto sonhos que são apenas eu mesma vivendo isso de novo. Mas, de novo, me arrependo durante todo esse tempo em que eu deixei o lobo me guiar e me tornar uma pessoa sozinha. Eu me virei bem, me acostumei perfeitamente, meu muro contra vulnerabilidade funciona até hoje, mas... Eu me arrependo.